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terça-feira, 18 de maio de 2010

Puro-sangue, Júlio Baptista vence o páreo e se garante no Mundial

Força física e bom desempenho credenciam ida do meia à Africa do Sul. Jornal Nacional exibe série especial sobre os convocados por Dunga para a Copa

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro


julio baptista em jogo da seleção brasileiraJúlio Baptista conta com a confiança de Dunga
desde a Copa América de 2007(Foto: Getty Images)

O escudo estampado no peito era uma ferradura. E o nome do primeiro clube não poderia ilustrar melhor o estilo do parrudo garoto: "Pequeninos do Jóquei". Jogador mais forte da seleção brasileira convocada por Dunga, Julio Baptista muitas vezes é comparado a um cavalo por causa da força física. Puro-sangue, diga-se de passagem. Capaz de arrancar e deixar na poeira concorrentes de peso como Ronaldinho Gaúcho na preferência do treinador para a disputa da Copa do Mundo de 2010.

Foi no campo de terra dos "Pequeninos", que fica perto do estádio do Morumbi, em São Paulo, que Julio Baptista deu os primeiros passos no futebol antes de chegar ao Roma, da Itália. Foi levado para treinar aos cinco anos, incentivado pelo Tio Dino, que percebeu no sobrinho a paixão pelo esporte. Ele logo se destacou entre a garotada de sua idade.

Mas nem sempre Júlio Baptista teve o físico privilegiado que exibe atualmente pelos gramados da Europa. Quando nasceu, no dia 1º de outubro de 1981, em São Paulo, o garoto tinha apenas 2,1kg. Hoje, às vésperas do Mundial, o apoiador tem 1,87m de altura e 81 kg.

- Quando eu chego em casa sempre brinco com a minha mãe. Quando eu era pequeno, eu cabia em uma caixa de sapato. Tudo o contrário do que eu sou hoje – contou Baptista, que não é muito de falar sobre a ausência do pai.

- Se eu tivesse uma infância só com a minha mãe, eu sentiria muito mais. Mas como eu fui criado com os meus avós e com muitos primos, eu não senti tanta falta. Os meus avós ocupavam esse lado. Eles me davam tudo e eu não senti falta de nada - afirmou o jogador.

Júlio não poupa elogios à mãe. Ele credita a sua índole à criação dada por Dona Vilma e os avós.

- Ela é o alicerce, é o centro da minha vida. Ela conseguiu me formar, dar a educação que eu tenho. Todos falam da educação que uma pessoa precisa ter, e a minha mãe é a culpada de tudo isso. O que eu tenho hoje eu devo a ela. Sempre que eu puder retribuir, eu vou fazer - disse Júlio Baptista.

Quando eu era pequeno, eu cabia em uma caixa de sapato"
Júlio Baptista, apoiador da seleção brasileira

Mesmo com pouco peso na época do seu nascimento, o tamanho já chamava a atenção na maternidade.

- Ele era magrinho, mas era comprido. Sempre foi o mais alto da turma – contou Dona Vilma, mãe do apoiador da seleção brasileira.

E foi justamente o menino magrinho que saiu da maternidade que se transformou em "La Bestia" para os espanhóis ou a "A fera" para os brasileiros. Aos 28 anos, Júlio Baptista é o sexto personagem de uma série de reportagens especiais do Jornal Nacional sobre os 23 convocados por Dunga para a África do Sul.

O apelido dado pela imprensa espanhola, inclusive, causou um mal estar com o Tio Dino. Segundo Júlio Baptista, a alcunha dada pelos europeus não foi bem recebida no início de sua passagem pelo Sevilha.

- É uma coisa importante para quem não conhece o idioma. Como o apelido foi dado na Espanha, a expressão é “La Bestia”. No português, a expressão seria como a bela e a fera. O pessoal não sabia e falava que eu era a besta. Sempre que eu dou as entrevista eu tento explicar isso. O meu tio ficou irritado no início - contou o apoiador.

Desde os primeiros chutes, a família Baptista imaginava ter um jogador de futebol em casa, mas jamais imaginaram estar próximos de um futuro atleta de nível mundial. Até os cinco anos, o garoto dava o seu jeito para brincar. Era uma bolinha de meia aqui ou jornal amassado de lá. Certo mesmo é que até os cachorros da casa participavam da “pelada” criada por Júlio.

- Ele chorava quando não podia jogar. A Vilma dizia que ele tinha que fazer a lição antes de jogar bola. Foi aí que ele começou a brincar com os cachorros. Tinha um cachorro que aprendeu até a ser goleiro de tanto que jogou futebol com o Júlio – revelou o Tio Carlinhos.

Memória de Craque, Julio BaptistaDona Vilma exibe a camisa da primeira equipe em
que atuou o filho Júlio Baptista (Foto: Divulgação)

Na escola, a paixão por futebol não era diferente. Júlio usava o mesmo artifício de casa. As bolinhas de meia sempre apareciam na sala de aula para uma partidinha na hora do recreio. Quando a professora decidia por parar o "confronto", o garoto não pensava duas vezes em sacar o outro pé de meia para criar uma alternativa de seguir o jogo.

Ao lado da escola onde o menino estudou ficava o campinho de terra batida. Atualmente, o local é cimentado e serve de diversão para a garotada. Porém, nos tempos do garoto Júlio, as peladas faziam parte do cotidiano e renderam boas histórias com Dona Vilma.

- O meu pai sempre ia buscar o Júlio no colégio. Em alguns dias da semana, ele tinha um tempo vago e deixava a escola antes do horário. Como o meu pai ainda não tinha chegado, ele ia para a praça para jogar bola. Ele largava os cadernos, o lápis, e perdia tudo. O Júlio não jogava bola com as crianças, ele jogava com as pessoas mais velhas, com homens. Ele costumava pedir à garotada que ficava de fora para avisar quando avistassem uma mulher de branco chegando à praça. Quando o Júlio me via, ele corria e eu corria atrás dele - relembrou Vilma.

A mãe de Júlio revelou que ele deu trabalho na infância por conta da paixão pelo futebol

- Ele ficava dando cabeçada na bola e quebrava tudo. Quebrava quadro, televisão. O Júlio dizia que precisava se aprimorar. A parede ficava toda suja. Eu tirei a bola, aí ele fez uma bola de jornal. Tirei a bola de jornal, ele pegou a de meia. Lembro que ele recolheu todas as meias da casa - contou Vilma.

ARQUIVO PESSOAL DE JÚLIO BAPTISTA
Memória de Craque, Julio Baptista
Júlio Baptista nos tempos de criança
Memória de Craque, Julio Baptista
No coral da escola quando criança
Memória de Craque, Julio Baptista
Defendendo o Pequeninos do Jóquei
Memória de Craque, Julio Baptista
Jogando ping-pong em um descanso das peladas
Memória de Craque, Julio Baptista
Prestes a disputar mais uma partida na infância
Memória de Craque, Julio Baptista
Ainda criança, Júlio no colo da mãe, Dona Vilma

E foi logo depois dessa fase de peladas que Júlio foi levado pelo Tio Dino ao Pequeninos do Jóquei. A equipe separava a garotada de cinco e seis anos para montar um time. Nessa época, o garoto da família Baptista já chamava a atenção por ser maior do que os seus amigos. E foi defendendo a equipe que ele começou a disputar torneios até fora do país.

Júlio relembra da história com carinho e diz que foi um dos melhores momentos de sua vida.

- Não existe a cobrança, a preocupação de hoje em dia. A criança desfruta do futebol com o que ela faz, sem se preocupar com nada. Ela só pensa em jogar. Depois dos 11 anos, a coisa é mais séria e você vai evoluindo para se tornar um jogador ou não - afirmou Júlio.

Memória de Craque, Julio BaptistaJulio Baptista atuando pelo Pequeninos do Jóquei
em um torneio na Suécia (Foto: Divulgação)

Mas a sua passagem pelos Pequeninos renderam muitos "causos". O técnico Bené, que trabalhou com Júlio em algumas competições internacionais, revelou alguns deles.

- Em uma viagem para a Suécia, a nossa equipe estava disputando uma partida e ele subiu para disputar uma bola. Na queda, o Júlio bateu com a barriga no chão e perdeu o fôlego. Lembro que ele gritou: "Bené, eu estou morrendo". Corri até ele, joguei aquela água benta e ele retornou para o jogo - contou o treinador, lembrando da competição que ocorreu em 1994.

Na França, uma nova aventura do pequeno Júlio. Bené contou um sonho que o jogador teve antes de um confronto na Europa.

- Não tínhamos lugar para dormir e um amigo arrumou um alojamento para passarmos a noite. Naquela ansiedade de jogar, ele acordou após um sonho gritando: "É pênalti! É pênalti! Deixa o Biro bater". São coisas marcantes. Era uma sala com 45 pessoas e todos estavam dormindo juntos. Foi curioso - revelou.

Como todo brasileiro, o ex-treinador de Júlio não deixou de dar a sua opinião e aconselhou o técnico Dunga sobre o posicionamento do seu ex-comandado.

- Quando ele jogou comigo, ele era centroavante. Eu sempre via nele uma boa impulsão, uma boa colocação. Sempre apreciei isso no Júlio. Quando ele foi para o profissional do São Paulo, ele foi deslocado para o meio-campo. Queria vê-lo atuando mais lá na frente. Vejo o Júlio como um finalizador - explicou Bené.

Do campinho dos "Pequeninos", Júlio Baptista andou mais alguns quilômetros e chegou ao Morumbi. Com 12 anos, ele iniciou a sua trajetória no clube de coração. Apesar da mãe e de grande parte da família serem corintianos, o garoto optou pela paixão do Tio Dino.

- Quando ele começou no São Paulo, eu como são-paulino roxo, acabei incentivando o garoto a virar torcedor do clube. Ele começou a jogar com amor à camisa por conta disso. O diferencial dele era esse. Ele não era corintiano antes de jogar no Morumbi. A verdade é que ele era influenciado pela família (risos). Levei o Júlio em uma final, coloquei ele nas costas e disse: “Você vai voltar para casa são-paulino” - contou Dino, revelando que o sobrinho ainda tem o costume de acompanhar o desempenho do Tricolor mesmo longe do Brasil.

E foi justamente distante do Brasil que Baptista tomou gosto pela música. O jogador aprendeu a tocar vários instrumentos e a cantar. O ritmo e o grupo preferidos? O pagode do Exaltasamba.

Memória de Craque, Julio BaptistaBaptista tem na casa de sua mãe um quatro com
uma foto de Pelé autografada (Foto: Divulgação)

- Gosto muito das músicas deles. Também sou padrinho de um grupo de pagode. Mas sempre que o pessoal pede para eu cantar alguma coisa me dá um branco - disse o apoiador, que tem uma foto autografada de Pelé na casa onde a sua mãe mora, em São Paulo.

A mãe revelou também ser uma apaixonada por música. Sempre que vai à Europa, ela costuma ouvir canções brasileiras na casa onde o filho mora na Itália. Mas, segundo os tios, o dom não é uma herança de família.

- Desde pequeno ele sempre se interessou pela música. Mas isso é uma coisa dele. Ninguém na família tem essa adoração pela música - revelou a tia Nair.

Bené não perde tempo ao brincar com o ex-comandado.

- Fiquei conhecendo o lado musical dele depois de adulto. O vi arriscando as músicas no violão. Ele como cantor é um perfeito jogador - brincou o ex-treinador de Baptista no "Pequeninos do Jóquei".

Fora das quatro linhas, Baptista tem outras curiosidades. O jogador tem todo um cuidado com o seu sorriso. As visitas ao dentista são periódicas. Tudo para manter a boca em dia.

- Tem que ter cuidado. Gosto muito e cuido bastante. A cada dois meses eu vou ao dentista para ver como estão os dentes, para ver se a posição está mudando, se vai precisar usar aparelho. O mais importante de uma pessoa é o sorriso - disse o jogador.

Muito filho diz que se orgulha dos pais. Eu me orgulho do filho que eu tenho. Falo isso de boca cheia"
Vilma Baptista, mãe do apoiador Júlio Baptista

Dona Vilma não elogia apenas o sorriso do filho. Para ela, Júlio é o galã da família.

- Acho ele bonito. São coisas que envaidecem. Fico feliz não só de ver a beleza física, mas também de ver o seu jeito de ser. Muito filho diz que se orgulha dos pais. Eu me orgulho do filho que eu tenho. Falo isso de boca cheia. Ele está sempre procurando agradar. Está sempre procurando reunir a família. Ele não menospreza ninguém. Apesar da distância, ele está sempre presente - contou.

E foi justamente com o sorriso cativante e a beleza descrita pela mãe que Júlio conquistou a espanhola Silvia. Os dois estão juntos há três anos e com o casamento marcado para logo depois da Copa do Mundo. O apoiador revelou ainda uma situação inusitada que tem passado ao conviver com a namorada, com os amigos italianos e com os parentes brasileiros.

- Quando eu converso com os meus amigos, eles dizem que quando eu voltar ao Brasil não vou falar mais nada em português. Às vezes, eu acabo misturando tudo. Na minha casa eu falo espanhol com a minha mulher, português com a minha mãe e italiano com os meus amigos - contou o jogador.

ARQUIVO PESSOAL DE JÚLIO BAPTISTA
julio baptista em jogo da seleção brasileira
Júlio Baptista em ação pela seleção brasileira
Memória de Craque, Julio Baptista
Meia é comparado com personagem do filme Liga Extraordinária
Memória de Craque, Julio Baptista
Júlio Baptista rasga a camisa em uma reportagem na Espanha
Memória de Craque, Julio Baptista
Júlio Baptista atuou ao lado de Kaká nos tempos de São Paulo
julio batista em jogo do real madrid
Baptista nos tempos de Real Madrid
julio Baptista em jogo do roma
Atualmente, o jogador defende as cores do Roma

Do Morumbi para o mundo

Em 2003, Baptista trocou o São Paulo pelo Sevilha. Na equipe espanhola, o jogador se destacou atuando como centroavante, sua posição de origem. Ele marcou 39 gols em 62 partidas. O jogador revelou que no início da carreira jogou muito como atacante, mas aos 14 anos foi recuado para o meio-campo por um treinador da base do Tricolor paulista chamado Pita.

- O treinador conversou comigo e disse que existiam muitos jogadores na posição e que se eu mudasse eu aprenderia muito no futebol. Passei a jogar como segundo volante e foi onde começou tudo. Conseguiu uma grande evolução em vários aspectos - contou.

julio baptista em jogo do sevillaJúlio Baptista chegou a atuar como centroavante
nos tempos de Sevilha (Foto: Reuters)

Após as boas atuações no Sevilha, o Real Madrid investiu € 20 milhões (cerca de R$ 44 milhões) na contratação do jogador em 2005. Na temporada seguinte, o apoiador foi emprestado ao Arsenal, onde herdou a camisa 9. Em Londres, ele participou de 24 partidas e marcou quatro gols. De volta a Madri, ele conquistou o Espanhol em 2008.

Sem muitas chances no clube merengue, Baptista optou por aceitar a transferência para o Roma. O clube italiano pagou € 9 milhões (cerca de R$ 19 milhões) pelo apoiador. Na atual temporada, ele conquistou o vice-campeonato nacional com a equipe romana, que ainda conta com o goleiro Doni e com o zagueiro Juan, também convocados por Dunga para a Copa do Mundo.

Em 2006, Júlio Baptista quase ficou na lista final de Carlos Alberto Parreira para o Mundial da Alemanha. Porém, no fim, o atleta foi preterido e não disputou a competição. Segundo a mãe do jogador, ele não demonstrou, mas ficou chateado com a situação.

- Ele queria parecer forte, mas sentiu aquele momento. Ele ficou chateado por não ter disputado a Copa de 2006 - contou Dona Vilma.

Mesmo fora do Mundial da Alemanha, Júlio Baptista conquistou os principais títulos de sua carreira na seleção brasileira. Ele levantou a Copa América em duas oportunidades (2005 e 2007) e foi bicampeão da Copa das Confederações (2005 e 2009).

Foi o meu momento mais importante na seleção. Nunca tinha tido a possibilidade de demonstrar o meu trabalho dentro do grupo. É uma história que não dá para acreditar"
Júlio Baptista, relembrando a oportunidade na Copa América de 2007

E foi justamente no time canarinho que o jogador marcou um dos gols mais importantes de sua vida como atleta profissional. Na final da Copa América de 2007, na Venezuela, ele balançou a rede diante dos argentinos. A seleção brasileira venceu a partida por 3 a 0 e ficou com o bicampeonato do torneio sul-americano.

- Foi o meu momento mais importante dentro da seleção. Nunca tinha tido uma possibilidade de demonstrar o meu trabalho dentro do grupo. Sempre fui convocado como reserva, mas nunca tinha entrado. É uma história que nem dá para acreditar. Eu estava no Arsenal, era o começo do trabalho do Dunga. O Zé Roberto tinha sido convocado, mas pediu não ser mais chamado. Eu era praticamente o terceiro reserva. Na minha frente tinha o Diego, o Anderson. Eles começaram os primeiros jogos e não foram bem e eu entrei logo depois e me firmei - contou o jogador.

Agora, em 2010, na África do Sul, Júlio Baptista terá a chance de mostrar porque é o puro-sangue convocado por Dunga e não o cavalo paraguaio preterido por Parreira na lista dos atletas que disputaram a Copa de 2006.

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