Gilberto, mais uma Copa pro Marreco homenagear sua heroína
O lateral, único jogador na Seleção de Dunga, além de Kaká, a marcar gol numa Copa, vai pro seu segundo Mundial dedicando o sucesso profissional à Dona Elenice, mãe dele.
Flutuam sobre a água. São aves da mesma família. Qual a diferença entre pato, ganso e marreco?
A seleção de Dunga já teve Pato. Pouco antes da convocação, houve um grande clamor por Ganso. Mas quem vai à Copa do Mundo? O Marreco, só o Marreco.
“Marreco, marreco, marreco e aí foi ficando”, diz o irmão Nidelson.
“Eu sou um dos marrecos também”, afirma o irmão Rodrigo.
“Isso se tornou já uma identificação da família, a família marreco”, diz Nidelson.
Dona Elenice tem seis filhos homens, seis jogadores profissionais de futebol. “Foi todo mundo, um atrás do outro, todo mundo queria seguir o mesmo caminho”, conta Rodrigo.
“Tem goleiro, tem centroavante, tem ponta-esquerda, tem meia-esquerda, tem lateral, tem lateral-direito”, lista Gilberto, lateral da seleção brasileira.
Nildeson fez carreira na América Central, dois jogam em Honduras. Nélio e Gilberto jogaram juntos pelo Flamengo, Rodrigo encerrou a carreira. O mais velho era o marreco.
“Acho que um olhando a trajetória do outro fez com que um fosse seguindo o outro”.
O apelido foi junto. “Não, esse é o marrequinho, esse é irmão do marreco, e foi pegando”, resume Gilberto.
Gilberto é o mais canarinho dos marrecos, vai para a segunda Copa. Aliás, de toda a Seleção, só ele e Kaká fizeram gol em Mundial. Na Copa da Alemanha, um chute cruzado na vitória sobre o Japão.
“Eu não sabia se corria pro banco, se comemorava sozinho, se ia pra torcida, passou um filme, em 15 segundos da minha vida toda”.
Rio de Janeiro, novembro de 1976. “A notícia chegou: ele tinha falecido”, lembra Dona Elenice.
O marido de Dona Elenice era policial militar. “E numa dessas batidas policiais, essas execuções no morro, meu pai acabou sendo baleado e acabou morrendo”, conta Gilberto.
“Aí, pronto, o mundo caiu”, afirma Dona Elenice.
“A gente pequeno, minha mãe com seis filhos, sem saber o que ia ser da gente”, diz Nildeson.
“Ainda teve gente que perguntava: ‘Você não quer dar ninguém?’. Eu falei: ‘Não, vou criar eles, tenho fé em Deus que eu vou criar’”, revela Dona Elenice.
Gilberto era um bebê de seis meses, caçula de seis. Os mais velhos tomavam conta da casa. “Minha mãe saía de casa meio-dia e só voltava 22h, 23h, porque ela trabalhava em companhia de limpeza”, lembra Nildeson.
“Orava, ia pro meu trabalho, ligava quando dava certa hora pra saber se estava tudo dentro de casa”, conta Dona Elenice.
Vivia do trabalho e da providência. “E ela ia lá todo dia lá pegar uma cesta básica. Na época achava que minha mãe era amiga do padre, que ela ia lá porque o padre estava dando aquela cesta básica, mas já era um momento que minha mãe não tinha condição de arcar com o alimento lá em casa”.
“A minha mãe foi uma guerreira, às vezes não tínhamos para comer. Não me envergonho. Minha mãe não gosta de dizer, mas muitas vezes minha mãe teve que pedir ajuda a pessoas porque não tinha nada dentro de casa”, emociona-se Nildeson.
Para ensinar os filhos, não precisou de ajuda. “Graças a Deus, tudo que eu faço hoje é pra minha mãe e pras minhas filhas”, afirma Gilberto.
O sucesso no Brasil levou Gilberto ao futebol alemão, depois ao inglês. Há um ano voltou para o Cruzeiro. É um dos mais jovens na família marreco; e o mais velho canarinho na África: 34 anos e mais uma Copa pra homenagear sua heroína, Dona Elenice.
“Tudo que sou, não tem como, devo tudo a minha mãe”.
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