Do ataque para o gol: Gomes queria ser artilheiro, mas mudou 'profissão'
Goleiro reserva da seleção brasileira resolveu arriscar vestir a camisa 1 no futebol armador para deixar de ser reserva. Deu certo
A história de Gomes no futebol começou na área, é verdade. Mas não como goleiro, posição que o consagrou no esporte, e sim lá na frente, como atacante. De artilheiro, porém, ele não tinha nada. Por isso foi recuado ao meio de campo. Após novo insucesso, outra mudança. Dessa vez para a zaga. Até que sem jeito para jogar na linha, ele resolveu espontaneamente assumir a camisa 1.
- Sempre pensei ser jogador de futebol. No início, porém, eu queria ser atacante, mas as coisas mudaram. Passei pelo meio-campo, pela zaga, até chegar ao gol – contou, rindo, o atual goleiro do Tottenham, da Inglaterra.
Personagem deste sábado na série de perfis que o Jornal Nacional está fazendo com os 23 jogadores que estão na África do Sul para tentar o hexa com a seleção brasileira, Gomes tem uma história curiosa. A infância foi pobre, sim, mas a sua determinação em se tornar jogador o impulsionou ao sucesso. Não à toa foi se arriscando que ele descobriu que o sangue de goleiro corria em suas veias.
- Teve um dia que nosso goleiro titular (no União Belo Vale, time amador de Minas Gerais) não foi ao jogo. E como eu ficaria no banco de reservas mesmo, pedi para jogar no lugar dele. Fui muito bem e depois fiquei melhor do que ele. A partir daí cada defesa que eu fazia me empolgava e fui vendo que eu tinha agilidade para a posição – relembrou o reserva de Julio Cesar na seleção brasileira.
Ao rebobinar a fita da vida de Gomes é possível perceber que essa determinação em brilhar nos gramados do mundo estava nele desde cedo.
- Nós não tínhamos condições de dar brinquedo, por isso era bolinha mesmo. Ele brincava de bola na fazendo, mas só nas horas vagas, porque eu queria que ele estudasse. Porém, ele sempre me dizia: ‘mãe, vou crescer, me tornar jogador de futebol, cuidar da senhora e do pai. Mas não só isso foi cumprido por ele. Teve muito mais – contou Dona Maria, mãe do goleiro brasileiro.
Lições do pai
Antônio Gomes Soares, pai de Gomes, morreu em julho de 2006, mas está seus ensinamentos estão eternizados na memória do goleiro. “Seo” Antônio era um exemplo para todos os 12 filhos, que sentem intensamente sua ausência até hoje, quase quatro anos depois de sua morte.
- Meu pai sempre me disse que tinha orgulho de me ver como jogador de futebol, mas que não queria que eu fosse goleiro, porque era muito sofrido. Ele queria me ver lá na frente fazendo gol – lembrou Gomes, com os olhos marejados.
O chefe da família Gomes, por sinal, foi um dos responsáveis por plantar no goleiro tamanha determinação para alcançar os seus objetivos.
- Tudo que eu tenho hoje em minha personalidade e que pretendo passar aos meus filhos veio dele e da minha mãe. Passei mais fácil por todas as dificuldades que tive porque colocava na minha cabeça que ia conseguir de qualquer maneira. Minhas conquistas foram todas programadas por mim – discursou o jogador.
![]() Gomes ainda nenê, de chupeta na boca | ![]() Gomes e seus amigos em Minas Gerais |
![]() Gomes e alguns dos seus irmãos | ![]() Gomes em ação pela seleção brasileira |
Heurelho? Quem é esse?
Se alguém lhe propusesse uma brincadeira e pedisse para adivinhar o primeiro nome do goleiro Gomes, da seleção brasileira, as chances de acerto seriam bem reduzidas. Afinal, seu nome não é nada comum: Heurelho.
- Foi meu marido que escolheu. Eu nunca dei palpite, só aceitava – esquiva-se a mãe de Gomes, Dona Maria.
Heurelho é a maneira como Gomes é conhecido na família até hoje. Em casa, ninguém o chama da maneira que ele é conhecido no esporte. Pelo contrário, todos fazem questão de chamá-lo pelo primeiro nome.
- O Heurelho era um menino dengoso, muito lindo. E continua assim até hoje, carinhoso com a família toda. Ele nos ajuda muito, tem um coração enorme e está sempre preocupado em dar o melhor para todos nós – falou a mãe.
Tamanha generosidade com a família foi retribuída com os títulos conquistados no futebol. Na época do Cruzeiro, o goleiro ganhou duas vezes o Campeonato Mineiro, uma vez a Copa do Brasil e outra o Campeonato Brasileiro. Na Europa, no PSV Eindhoven, ele levou quatro vezes o Holandês e uma a Copa do país.
- A Tríplice Coroa foi muito importante no Cruzeiro. Mas para mim a estreia como profissional, contra o São Paulo, em 2002, marcou bastante também. Fui muito bem, consegui parar Kaká e Luís Fabiano (os companheiros de seleção eram do Tricolor à época), ganhamos por 3 a 1 e a torcida gritou meu nome – falou Gomes.
Fazendo as malas
No dia da entrevista para o Jornal Nacional, Gomes já sabia que estava convocado por Dunga para disputar o Mundial da África do Sul. E por isso, a reportagem da TV Globo flagrou o momento em que ele preparava suas malas para viagem.
- Estou levando dez pares de luva, três pares de chuteira... Roupa eu levo pouca, porque praticamente não saímos e a CBF dá bastante coisa. Mas dessa vez eu vou levar umas camisas térmicas porque o frio na África do Sul – contou o goleiro.
Mas o que de mais valioso Gomes colocou na mala da viagem para a Copa do Mundo foi o terço que sua mãe, Maria, lhe deu. É o que vai protegê-lo em solo sul-africano e o acompanhar na luta rumo ao hexacampeonato mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário